PRIMEIRA IGREJA
PRESBITERIANA DE JOÃO PESSOA
ESCOLA BÍBLICA
DOMINICAL
CLASSE TEMÁTICA: O
LIVRO DO APOCALIPSE
PROFESSORES: Revs. Fernando e Lídio
A Dedicatória (1:4-8)
Pelo menos dez igrejas
haviam sido estabelecidas na província da Ásia quando João escreveu o
Apocalipse, portanto deve ter havido alguma razão para que ele escolhesse sete
delas. Por agora queremos simplesmente apontar o fato de que o número de
igrejas às quais João se dirigiu (cujo significado simbólico será considerado
mais adiante), bem como a ordem na qual elas são apresentadas (que,
ao que tudo indica, parece ser mais uma questão de simetria de estilo do que de geografia) parecem indicar que a
mensagem é para a igreja em geral. João abre a sua dedicatória com um tipo de
saudação que pode ser encontrado na maioria das cartas no Novo Testamento. Pelo
fato de dirigir-se a um público bastante grande, sua descrição dos remetentes
é bastante impressionante. Graça e paz vêm, neste caso, do Deus triuno e cada
uma das pessoas da trindade é mencionada por sua vez. A descrição de Deus, o
pai, que relembra o nome divino dado a Moisés em Êxodo 3:14, demonstra a
particularidade de certa porção da linguagem utilizada por João. O que João
verdadeiramente escreveu no grego seria o seguinte em português: "Graça e paz da parte de ele que é...". Será que realmente João
deveria ter usado "de ele" em vez de "dele" ou
"daquele"? É possível que João estivesse vendo Deus como alguém que é
sempre "ele", o único sujeito de todas as sentenças, que governa todo
o conteúdo do que está escrito, não sendo "ele" mesmo controlado por
nada. Nem mesmo pelas leis gramaticais. Encontramos no Apocalipse muitas
declarações, muito mais explícitas do que esta, do que o escritor da carta aos
Hebreus chamou de "a imutabilidade
do seu propósito" (Hb 6:17). Aliás, o Espírito que está diante do
trono, o centro da trindade, e que conhece as profundezas de Deus (1 Co
2:10ss), é mencionado a seguir. A visão
de João o levará para dentro do santuário celestial, do qual o tabernáculo no
deserto era uma cópia e uma sombra (Hb 8:5). E talvez a ordem de apresentação
da trindade de um modo pouco costumeiro (Pai, Espírito Santo, Filho)
corresponda ao plano do santuário terrestre em que a arca no santo dos santos
representa o trono de Deus;o castiçal de sete hastes no lugar santo representa
o Espírito Santo; e no átrio frontal ficava o altar de bronze com os sacerdotes
e sacrifícios, ambos representantes do trabalho redentor de Cristo.Se a
descrição do Pai contém um dos primeiros solecismos
da parte de João, a descrição do Espírito Santo contém um dos primeiros
mistérios. "Sete espíritos"
— seria esta uma expressão para representar o Espírito na sua natureza
essencial, da mesma forma como as sete igrejas representam a única e verdadeira
igreja? Ou será que eles representam o Espírito igualmente presente em cada
uma das igrejas? (Ver 5:6). Ou será que representam os sete dons do Espírito
apresentados em Isaías 11:2? Não sabemos com certeza. Todavia somos avisados de
antemão que as chaves que abrem certas portas do Apocalipse são de difícil
acesso. Deus, o Filho, recebe uma
descrição mais completa. As raízes da descrição encontram-se no Salmo
89:27, 37 e a passagem apresenta o triplo ministério de Jesus como profeta, sacerdote e rei. Com Cristo a
trindade chega à terra e a teologia (v.5) torna-se louvor (vs.5b e 6). Jesus
Cristo é o profeta que veio ao mundo para dar testemunho do evangelho da
salvação. Apesar da palavra testemunho ser a palavra grega martis, o
pensamento básico não está relacionado à morte de Cristo e, sim, ao testemunho
que ele dá. A vinda de Cristo é uma amável deferência da parte dele para conosco.
Ele é o Sacerdote que se ofereceu a Si mesmo e que morreu para depois
ressuscitar, não somente para Si, mas para todos os filhos de Deus. Ter sido lavado
no seu sangue é uma metáfora bíblica aceitável encontrada, por exemplo, em
7:14; mas NVI diz: "pelo seu sangue nos libertou", tradução
que não somente tem uma melhor sustentação nos manuscritos originais, como
ainda associa o nosso texto aos acontecimentos descritos no livro de Êxodo,
tais como a morte do cordeiro pascal e a redenção de Israel do jugo egípcio. No
Calvário foi efetuada uma redenção muito mais abrangente. E seus benefícios são
para nós. Agora o Senhor é exaltado como Rei dos reis, e da mesma forma como Israel
foi libertado da escravidão para se tornar um reino de sacerdotes (Ex 19:6; Ap
5:9-10), é dada a nós a oportunidade de compartilhar do reinado do Senhor.
Um dia o Senhor
voltará, como ele mesmo afirmou. Aliás, foi o próprio Senhor, e não João, que
primeiro juntou esta dupla figura profética que envolve as nuvens e a
lamentação das tribos da terra associadas à sua segunda vinda (Dn 7:13; Zc
12:10; Mt 24:30). Aqueles que o traspassaram irão reconhecê-lo e lamentarão a
oportunidade perdida de salvação. Mas seu próprio povo estará a esperá-lo,
sabendo que ele é o "Alfa e o Ômega", o princípio e o fim de todas as
coisas. E assim o trabalho do Senhor estará terminado. Este é o Deus
Todo-poderoso que está enviando graça e paz a nós, seus servos, na longa carta
que se segue. Graça e paz em vez de perplexidade e confusão é o que promete o
Senhor a todos que com espírito confiante o procurarem para serem abençoados.
O Apocalipse é um verdadeiro drama. Depois do título e da dedicatória que
formam o prólogo, as cortinas são abertas e o drama começa.
A Igreja Centrada em Cristo (1:9-20)
Até o dia em que ouviu
a voz como que de trombeta, João experimentou, no banimento, muito mais as
tribulações de Cristo do que o esplendor do reino do Senhor. As montanhas e as
minas da ilha de Patmos eram ambiente próprio para causar depressão e não
encorajamento. Mas apesar de João estar fisicamente em Patmos, naquele dia do
Senhor achou-se também em espírito , da mesma forma que Jacó muito tempo antes,
para quem o travesseiro de pedra do exílio tornou-se o próprio portal do céu. A voz ecoou. João voltou-se: a cena
daquela ilha mediterrânea sumiu nas suas costas e diante dele surgiu a visão de
uma outra realidade. Foi o círculo de sete candeeiros que primeiro lhe chamou a
atenção. Os candeeiros representavam as igrejas, é a explicação que logo se
segue. Mesmo que o versículo 20 não existisse, poderíamos chegar a esta
conclusão através de outras passagens, tais como Filipenses 2:15-16. Aqueles
que resplandecem como luzeiros no mundo, diz o apóstolo, são os que preservam a
palavra da vida. Assim Cristo, que é a luz do mundo (Jo 8:12), dá aos discípulos
o mesmo título (Mt 5:14). O significado do outro conjunto de luzes, as
estrelas, não é tão fácil de entender. As sugestões de que os anjos são os líderes
das igrejas, ou mensageiros delas, ou que representam o seu espírito, no sentido
moderno de caráter ou etnia, levantam uma série de dificuldades. Parece que o
melhor a fazer é tomar as palavras pelo que elas valem no seu sentido básico.
As Escrituras demonstram (e não somente os escritos apocalípticos) que, tanto
indivíduos (Mt 18:10; At 12:15), como nações (Dn 10:13; 12:1), podem ter um
anjo, um parceiro espiritual no nível celestial. Presumivelmente o mesmo
poderia acontecer em relação às igrejas. De qualquer forma o anjo e sua igreja
estão intimamente relacionados; a mensagem de Cristo é dirigida a ele ou à
igreja indiscriminadamente; e tanto as estrelas como os candeeiros, embora de
formas diferentes, iluminam o mundo.
Mas as luzes de menor
intensidade, tanto no céu como na terra, empalidecem diante do resplendor do Sol.
Esta cena de abertura é dominada pela "glória
do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" (Tt 2:13). Sabemos, de
acordo com o versículo 18, que a descrição não pode ser de nenhum outro. A
visão de João (v.17) é realmente muito impressionante. João certamente o vê
como Deus. E lhe atribui as características divinas usando a mesma linguagem
que Ezequiel e Daniel usaram para descrever Deus, e certamente João teria
relembrado a reivindicação de Cristo em João 14:9: "...quem me vê a mim, vê o Pai...". Deste ponto em diante
a centralidade de Cristo é o tema principal do Apocalipse. Todas as coisas dependem
do relacionamento com Ele. Isso pode explicar um fato curioso. Os sete
candeeiros certamente nos trazem à mente um outro candeeiro: o que foi colocado
no tabernáculo de Moisés. Moisés , tal como João, teve uma visão da realidade
espiritual, na qual lhe foi ordenado que construísse uma réplica do que vira.
Entre as coisas que ele diligentemente construiu estavam as sete lâmpadas
unidas em um único candeeiro. Os
candeeiros de João, no entanto, estão separados. Talvez devamos ver neles a
igreja, seja assim para nós exatamente como ela aparece no mundo, isto é, congregações
locais aqui e ali, que podem ser completamente isoladas e até destruídas (2:5).
Mas no nível celestial a igreja está unida e é indestrutível porque está
centralizada em Cristo. Os candeeiros estão espalhados pela terra; mas as
estrelas estão seguras na mão de Cristo. Assim também deve ser para todo o seu
povo. A tribulação, a realeza e a perseverança que Jesus conheceu, João também
conheceu, e se queremos verdadeiramente ser seus companheiros, precisamos estar
dispostos a compartilhar as mesmas experiências. Em Patmos nós sofremos; mas en
Pneumati nós reinamos. O objetivo prático, para o qual a revelação divina
aponta, é fazer-nos ver o primeiro à luz do segundo. Mesmo a progressão iniciada
na primeira cena, que se passa inteiramente neste mundo, até a oitava cena, que
se passa inteiramente no futuro, serve para ilustrar o mesmo propósito. O
cristão conhece este mundo porque nele habita. Mas quanto ao significado do
mundo, para onde ele caminha, e por que o trata com tanto desprezo, são
questões para as quais ele não consegue encontrar resposta. Ele começa a
entender somente quando o fato é relacionado àquele mundo. Ele chega a ver um
plano da História, a realmente entender o que está acontecendo, a perceber o
seu próprio lugar no quadro, e como tudo irá terminar. Percebe o grande desenho
do lado direito da tapeçaria, que explica o entrelaçamento de fios e as pontas
soltas que estão do lado que lhe é mais familiar. Assim ele aprende a relacionar
em sua mente a igreja, como ele a vê, lâmpadas que brilham aqui e ali em um
mundo mergulhado em trevas; lâmpadas constantementes ameaçadas de extinção, e a
igreja como Cristo a apresenta, um conjunto de estrelas inextinguíveis na mão
do seu criador. Está pronto a enfrentar a tribulação, por causa do que ele
conhece acerca do reino: está pronto a enfrentar a tempestade porque sabe que
suas fundações estão profundamente enraizadas na rocha. "A tribulação e o
reino" produzem "a paciente perseverança". Este é o objetivo do
livro do Apocalipse.
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